(Morto-vivo)


Morto-vivo
- © Lenise M. Resende -

Creio que alguns costumes tem início na nossa vivência, no período de infância e adolescência. Não lembro de ver meus pais trazendo pedrinhas, conchinhas, folhas ou flores, como recordação dos lugares que visitávamos. Fotos ao lado de arbustos floridos, eram a lembrança preferida de minha mãe.

Talvez, por isso, sempre me chamou a atenção, a atitude das pessoas que não conseguem passar por um jardim sem deixar de coletar flores. Quando não encontram flores, quebram pequenos galhos, coletam folhas ou arrancam mudas de plantas. No momento que o que foi coletado murcha ou atrapalha alguma atividade, é jogado no chão.

Creio que alguns costumes virtuais revelam, claramente, a nossa forma de agir na vida real.

Sempre me chamou a atenção, a atitude das pessoas que não conseguem entrar numa página da internet sem deixar de coletar textos e imagens. O destino dado a esse material pode ser a publicação em algum blog, repasse aos amigos ou uma pasta de arquivos no computador. Em geral, seria melhor que a pessoa divulgasse o endereço original do texto ou da imagem. Longe de seu lugar de origem, muitos perdem o brilho, lembrando uma flor murcha.

Divulgar o endereço de algo bonito visto na internet, é o mesmo que mostrar a foto de algo que nos agradou na vida real. A foto nos mostra algo vivo. As pedrinhas, conchinhas, folhas e flores secas, mostram o contrário, quando vistos somente como uma recordação. Quando usados na criação de objetos de arte ou artesanato, ganham nova vida. O mesmo acontece quando o que foi coletado na internet é tratado com carinho, e tem a sua autoria respeitada.

Há algum tempo, logo após ter divulgado um novo álbum de imagens, recebi uma reclamação. Alguém queria copiar o álbum inteirinho e, preocupada em fazer um bom trabalho, esqueci de mudar um detalhe nas configurações que impedia a cópia integral. Não sei se, depois, o álbum foi copiado. Só sei que, após algumas mudanças que fiz, ele ficou bem melhor. Sorte de quem preferiu guardar ou divulgar só o endereço.
 
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Nota - Crônica de internet (que apresenta aspectos particulares da comunicação virtual)
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2 comentários:

Eduardo disse...

Olá Lenise :)

Seu texto me fez pensar sobre como as pessoas interpretam a realidade, principalmente como elas enxergam o outro.

Quando alguém se aproveita do trabalho de outra pessoa sem sequer pensar no que esse trabalho significa para essa pessoa, mostra que nosso olhar sobre o outro, na verdade, não existe.

Simplesmente, não vemos o outro...

Abraços!

lenise-m-resende disse...

Jauch
É uma satisfação muito grande ter você aqui contribuindo com seu comentário. Abraço!