(Casa na cidade)


Casa na cidade
- © Lenise M. Resende -

Quem já ouviu Elis Regina cantando a música Casa No Campo, pode achar essa interpretação inesquecível. É o meu caso! Mas não quero uma casa no campo. O campo é bonito pra se visitar, e eu quero uma casa para morar.

O que eu quero é uma casa na cidade, perto do mar, mas que não seja em frente à praia. Gosto da areia e do mar, mas não da maresia. E o mesmo mar que me encanta nos dias de sol, me assusta nos dias de tempestade e nas noites sem lua. Gosto de olhar as ondas do mar, mas me banhar em águas mais tranquilas. E o mesmo vento que me agrada quando é brisa, me agride quando sopra intenso, com rajadas fortes.

O que eu quero é uma casa pequena, simples, e confortável. Uma casa fácil de arrumar e de limpar. Um lugar mais pra viver do que trabalhar. Um lugar para viver com simplicidade, andar descalça, ouvir o silêncio, admirar e ouvir os sons da natureza.

Já morei em casa e gostei muito de fazer tudo isso. Era uma casa na cidade grande, mas num local meio isolado, silencioso. Num lugar alto, longe do mar, de onde se avistava um pedaço da Ponte Rio-Niterói. Após dois assaltos, decidi que só iria morar em apartamento. Só que recentemente vi algumas fotos, numa revista de decoração, de uma cabana de pescador que foi reformada, e me apaixonei por ela.

Ela me fez lembrar de uma casa de praia que compramos em Cabo Frio, fizemos algumas melhorias e depois vendemos. Ficava num condomínio, construído num areal, perto de uma lagoa. Na época, as ruas não tinham calçamento e as casas eram quase iguais, feitas com tijolinho envernizado, piso de lajota de barro, e janelas de madeira com veneziana. A cozinha era conjugada à sala, e a bancada que separava os ambientes servia como mesa. O sofá tinha a base de alvenaria, e os quartos tinham suas camas construídas da mesma forma.

A simplicidade facilitava a limpeza, já que bastava a casa ficar alguns dias vazia para que a areia a invadisse. Para torná-la novamente habitável era necessário sacudir os colchões e as almofadas, varrer o chão, e espanar a areia fina dos pouquíssimos móveis. Para fazer uma faxina, bastava tirar de dentro de casa o que não podia ser molhado. Depois, era só pegar a mangueira do jardim e lavar a casa. Em pouco tempo a casa estava limpa, seca, fresca, e com cheirinho de terra molhada.

Não me importaria se, por algum motivo, a casa que eu quero se transformasse em um apartamento pequeno, simples, e confortável. Mas continuaria querendo: um lugar fácil de arrumar e de limpar; um lugar mais para viver do que trabalhar; um lugar para viver com simplicidade, andar descalça, ouvir o silêncio, admirar e ouvir os sons da natureza. Porque, no fundo, o que eu mais quero é viver em paz.
 
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Nota - Crônica jornalística (apresenta aspectos particulares de notícias ou fatos cotidianos)
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