(O doce amado)

 
O doce amado
- © Lenise M. Resende -

Enrolar a massa do brigadeiro, o doce mais amado pela família, é uma tarefa ao mesmo tempo simples e complicada.

É simples, porque basta untar as mãos com manteiga, pegar um pouquinho da massa, colocar na palma de uma delas e enrolar. Depois que a bolinha está pronta, é só passar no açúcar ou chocolate granulado, que foi colocado num prato.

É complicada, porque é difícil controlar a nossa gula, e a das pessoas que aparecem para dar uma espiadinha. Não é um doce de cheiro muito forte, mas a notícia de que ele está sendo feito se espalha rapidamente pela casa.

Aqui em casa, o guloso mais comportado acaba sendo o cachorro. Ele sabe que algo gostoso está sendo feito. Por isso, fica sentado perto da mesa, quietinho, acompanhando com olhos atentos os movimentos das mãos que enrolam o doce. Ele só fica mais agitado quando alguém encosta na mesa e tira sua visão da cena. Mesmo que a chance de um brigadeiro cair no chão seja mínima, ela existe. Então, não custa nada para ele ficar ali de plantão.

Os gulosos mais pacientes sempre aparecem para apanhar alguma coisa ali perto, ou fazer uma pergunta qualquer. Já os impacientes, quando aparecem, vão direto ao assunto, e perguntam se podem experimentar. Depois que o doce é aprovado, eles aproveitam e pedem para saborear mais um.

Se os brigadeiros estão sendo feitos para uma festa, fica mais fácil negar os pedidos. Mas, se estão sendo feitos como sobremesa, fica difícil resistir ao argumento daqueles que preferem colocar a massa em copinhos, para agilizar o consumo.

Os gulosos mais apressados não querem saber de enrolação. Enquanto o doce ainda está no fogo, decretam que nem é preciso colocar num prato e, assim que a massa esfriar, que cada um da família pegue a sua colher, porque não tem nada melhor que raspar panela de brigadeiro.

Existem vários tipos de apreciadores de brigadeiro, mas certamente esse é o doce mais amado pelas famílias brasileiras. Ouvir seu nome já é o suficiente para ativar nossa memória gustativa, recheada de variadas lembranças.
São recordações engraçadas, de festas onde a dona da casa, por medida de economia, batizava o doce com amido de milho, deixando-o duro de mastigar. E, revoltadas, as crianças faziam uma guerra com os brigadeiros, para desespero de suas envergonhadas mães.

São recordações alegres, de comemorações onde as crianças disputavam para ver quem comia mais docinhos. E, também, recordações tristes, de momentos de dor ou solidão amenizados por uma panela de brigadeiro, saboreado com o acompanhamento de lágrimas.


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Nota - Crônica jornalística (apresenta aspectos particulares de notícias ou fatos cotidianos)
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