- © Lenise M. Resende -
Na infância, uma das minhas brincadeiras favoritas chama-se
"Mamãe, posso ir?". Era uma brincadeira simples, onde a criança que representava
a mãe ficava de frente para uma parede e de costas para os filhos, que ficavam
distantes, no lado oposto à parede.
Um a um, os filhos iam indagando: "Mamãe, posso ir?". A mãe
respondia: "Pode!". O filho perguntava: "Quantos passos?". E a mãe respondia
dando o número de passos de um determinado animal. Exemplo: de formiga, passos
bem pequenos; de elefante, passos bem grandes; de caranguejo, eram passos
normais, mas para trás.
Há poucos dias, após uma sessão de análise, eu me senti leve
e contente, como se tivesse acabado de dar grandes passos em direção a algo
muito bom. No dia seguinte, acordei sorrindo, e imediatamente lembrei de algo
que foi falado durante a análise, e me pareceu engraçado. Perto da hora da
almoço, tive um flash, uma repentina lembrança de um fato desagradável. Logo
depois, tive outro, e mais outro. E, a medida que ocorriam, eles se tornavam
mais reais e doloridos.
Buscar alívio na cama não me ajudou muito, e me senti retrocedendo no
tempo. Depois de muito chorar, percebi que os flashes haviam cessado, e que a
dor estava suportável, mas que eles haviam deixado um grande medo em seu lugar.
Como essa situação já ocorreu inúmeras vezes, o medo de que continue se repetindo me fez lembrar dessa antiga brincadeira de "Mamãe, posso ir?". E me faz indagar se, apesar da idade atual, ainda estou esperando que minha mãe me dê sua permissão para seguir em frente, coisa que aparentemente ela não fez no passado. Detalhe que, mesmo parecendo insignificante, precisa ser encarado com seriedade, para que eu consiga exterminar essa sensação de estar constantemente voltando ao ponto de partida.
* * *
Nota - Crônica filosófica (reflexão a partir de um fato ou evento)
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Um comentário:
Cheguei aqui no seu blog__ Muito diz de mim por aqui, vou entrar, com licença!
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