As melhores coisas da vida
- © Lenise M. Resende -
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Quem diria que eu, que durante muitos anos fui a rainha da insônia, viesse um dia a ser uma dorminhoca. E, ainda por cima, que considerasse que dormir é uma das melhores coisas da vida. Pois é, o tempo passa, a gente muda, e eu mudei para melhor. Na verdade, foi preciso lutar muito para que essa mudança acontecesse. Só que uma dorminhoca com sintomas de gripe sente ainda mais sono. E isso complica tudo.
Estou numa ótima fase, cheia de ideias para novos textos, e cheia de gás para fazer revisões. Mas os sintomas da gripe – dor de garganta, olhos lacrimejantes e cabeça pesada – atrapalham bastante. Se tomar um antigripal o sono vai me derrubar. Qualquer antigripal me dá sono, mesmo os que dizem que não tem esse efeito. Então, passo boa parte do dia adiando essa ação. Quando não aguento mais me sentir mal, tomo o remédio, aproveito por algum tempo a sensação de alívio dos sintomas, e me rendo ao sono.
Já disse que considero que dormir é uma das melhores coisas da vida. Mas, ainda não disse, que acho que escrever também é uma das melhores coisas da vida. Quando consigo transformar uma ideia em um texto, a alegria que sinto é indescritível. Quanto maior for o número de ideias que povoam minha cabeça, maior será o tempo que vou passar escrevendo.
A briga entre o que o corpo pede e o que a vontade deseja tem sido grande. Ainda mais que a temperatura mais baixa da última semana, provocada por uma frente fria, é um incentivo ao descanso. Mas até que tenho resistido bem a tentação de aproveitar esses dias de frio dormindo debaixo de um edredom.
A solução para o impasse, foi ressuscitar o velho caderno de rascunhos que, há alguns anos, estava esquecido num armário. Colocado ao lado da cama, junto com um lápis, ele permite que eu guarde as ideias que receio perder se dormir. Em geral, quando já estou deitada e surge alguma ideia que merece ser anotada, prefiro levantar e ligar o computador. Só que ultimamente nem sempre é possível agir dessa maneira.
Até que foi bom reler os antigos rascunhos. Já tenho até um novo caderno, para onde vou transferir alguns esboços de poemas. Percebi que é mais fácil decidir entre várias versões de um poema quando estão lado a lado no papel. Mas os textos em prosa vou continuar escrevendo direto no computador. Quando coloco um texto muito longo no papel, fico sempre adiando sua conversão para o formato digital.
E, por falar em adiar, entre a frase anterior e essa aqui, um mês se passou. O que pensei que fosse uma gripe era alergia a poeira. Uma obra estava sendo feita na fachada do meu edifício e, mesmo com a janela fechada o dia inteiro, a poeira conseguia se fazer presente.
Adiar o final do texto me deu muito tempo para pensar, e tomei uma decisão: se um dia eu resolver fazer uma lista com as melhores coisas da vida, a saúde estará entre as primeiras. Sem ela muitas outras coisas perdem a graça, o gosto, ou deixam de existir.
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Nota - Crônica filosófica (reflexão a partir de um fato ou evento)
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