Atitude sem pressa
- © Lenise M. Resende -
Existem alguns assuntos sobre os quais tenho opinião, mas
guardo pra mim. Existem pessoas que se comportam de modo que discordo, mas não
critico. Não costumo, também, fazer comentários sobre a pressa ou pessoas
apressadas.
Após receber um texto enviado por um amigo, no entanto, comecei a pensar em escrever sobre o assunto. Na verdade, o texto que recebi é tão interessante, que merecia ser divulgado na íntegra. Mas, por que me apressar, divulgando um texto do qual ainda não conheço o autor?
O texto faz comentários sobre o Slow Europe, movimento que baseia-se no "questionamento da pressa e da loucura gerada pela globalização, pelo apelo à quantidade do ter em contraposição à qualidade de vida ou à qualidade do ser". Esse movimento foi inspirado no Slow Food (comer e beber devagar, saboreando os alimentos, curtindo seu preparo, no convívio com a família e amigos).
Um dos melhores trechos do texto diz: "essa 'atitude sem
pressa' não significa fazer menos, nem menor produtividade. Significa, sim,
fazer as coisas e trabalhar com mais qualidade e produtividade com maior
perfeição, atenção aos detalhes e com menos stress. Significa retomar os valores
da família, dos amigos, do tempo livre, do lazer, das pequenas comunidades, do
local - presente e concreto - em contraposição ao global - indefinido e
anônimo."
A internet nos sugere rapidez, e seus serviços usam nomes
como Velox e Speed (velocidade). Mas seria a internet sempre rápida? Ela pode
ser rápida, se todos os serviços que o usuário utiliza forem rápidos.
Hoje, recebi um pedido do Spam Uol, para confirmar mensagens
que enviei há três dias. E se fosse urgente? Só não podemos negar que os vírus,
os boatos e as más notícias, são velozes. A solidariedade, o carinho e a
amizade, também, se o usuário usar boas sementes e cuidar do que anda plantando,
sem esquecer de um bom antivírus.
Tantas coisas acontecem em tão pouco tempo na internet que,
muitas vezes, perco a noção do tempo. Preciso pensar muito, para lembrar que uso
esse meio de comunicação somente há dez anos. Parece que mais tempo se passou.
Velozmente, pessoas surgiram e desapareceram, amizades começaram e terminaram,
sites foram criados e fechados, informações foram achadas e perdidas, e
mensagens guardadas foram deletadas.
Se, hoje, eu indagar por X, aquela escritora que foi muito
divulgada em 2001, alguém lembraria dela? Não sei. Só posso dizer que eu não a
esqueço. Quando a conheci, no ano 2000, estava começando a divulgar meus
trabalhos. Com o tempo, percebi uma "coincidência" - quando eu era publicada num
site, logo após a minha divulgação, ela também era publicada naquele espaço. A
maior diferença entre nós é que, quando cediam espaço para dez poemas, eu
enviava só oito. E deixava espaço para um futuro envio. Ela enviava os dez de
uma vez só.
Mas, com o passar do tempo, meu ritmo de publicação deve ter
ficado lento para a pressa dela, e ela descolou de mim. Enquanto eu escrevia dez
textos diferentes, ela publicava um mesmo texto em dez lugares. Alguns meses
depois, no auge do sucesso virtual, ela enviou uma mensagem aos amigos, pedindo
que parassem de lhe escrever por algum tempo. Citou os motivos, que não vou
reproduzir, e sumiu da internet.
Na mesma época, uma amiga criou um site e um grupo de
discussão literária. A base desse trabalho era a divulgação de novos escritores,
feita através de frequentes atualizações. Em pouco tempo, ela estava
estressadíssima, passando a maior do dia no computador. Sabendo que eu era owner
(proprietária) de um grupo no Yahoo, ela indagou-me a respeito. Respondi que
criei o meu site e o grupo, baseados na minha realidade. Algumas vezes, posso
ficar muitas horas seguidas no computador. Mas, fazer isso diariamente, não é
possível. Além disso, preciso ter tempo para criar o meu próprio trabalho.
Por que prometer o impossível, então? Por que a pressa em
divulgar e atualizar? Será que as pessoas que recebem atualizações frequentes
tem tempo de acompanhá-las? Eu não tenho, por isso, prefiro deixar uma
atualização em destaque por muito tempo.
Sou rápida ao pensar, mas felizmente aprendi a refrear o
impulso de agir rápido. E já me poupei muitos aborrecimentos. A rapidez que a
internet sugere me deixa cautelosa. E a cautela me deixa lenta... ou melhor,
sem pressa.
* * *
Nota - Crônica filosófica (reflexão a partir de um fato ou evento)
* * *
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Um comentário:
nossa muito bom aqui viu
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