- © Lenise M. Resende -
Ao ler a crônica "Adoção de Poetas", de Felipe Cerquize, vários nomes de poetas adotados saíram de minhas lembranças, e misturaram-se ao texto. Em grupos da internet, onde predominam os não escritores, essa adoção é bem visível. Em grupos de escritores, é mais difícil acontecer ou ser percebida, mas acontece.
Assim como muitas pessoas adotam mais de uma criança, existem leitores que adotam vários poetas. E, alguns poetas, devem saber ou desconfiar que são admirados por aqueles que os adotaram. Creio que a maioria, porém, ignora.
Em um trecho da crônica, o autor diz: "... a proposta é que cada cidadão de cada comunidade adote um poeta, não necessariamente com recursos monetários, mas vestindo sua camisa, assim como faz quando torce por um clube de futebol..." E é aí que mora o perigo. Brasileiro, quando veste uma camisa, é capaz de brigar por ela.
Na internet, os campeonatos são chamados de concursos e, as torcidas organizadas, de panelinhas. Tem brigas, trocas de insultos e acusações.
Tem os torcedores que só gostam dos vencedores, isto é, autores premiados ou com muitos livros. Os que apostam em novos talentos. Os que adotam um autor por simpatia, empatia ou amizade.
Certa vez, fui indagada sobre o perfil do leitor que gosta de poesia. Acredito que seja uma pessoa que goste, principalmente, de ler. O sexo, a idade, a classe social e a formação, influenciam só a escolha do estilo de poesia e do autor. Não é o romantismo que faz alguém gostar de poesia. Se na infância não gostava de ler, e na adolescência fugiu até das revistas, a chance de que não goste de poesia é grande. Certamente, irá preferir música romântica.
Ser poeta é dispor-se a ser escolhido e acolhido, por conhecidos e desconhecidos. É ver sua poesia frequentar e morar em lugares inimagináveis. Ser poeta é dispor-se a ser amado e adotado. Sou poeta... adote-me!
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Nota - Crônica literária (apresenta aspectos particulares de criação ou
crítica literária)
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