(Meu filho, meu anjo)


Meu filho, meu anjo
- © Lenise M. Resende –
 
Quando entrei no banho, meu filho estava na sala vendo televisão, assistindo, mais uma vez, um de seus filmes preferidos. Ele até já havia decorado as cenas, mas, aparentemente, ainda tinha esperança de mudar algumas delas.
 
No início, ele dava instruções ao personagem principal com voz baixa e tranquila. Como o personagem ignorava o que ele dizia, meu filho foi ficando aborrecido. De dentro do banheiro, mesmo com o chuveiro ligado, eu podia ouvir seus gritos.

Preocupada, resolvi pedir ajuda, e, num tom de voz normal, pedi que o anjo da guarda do meu filho o acalmasse. O efeito foi imediato.
 
Assim que abri a porta do banheiro, meu filho veio falar comigo. Com voz entusiasmada ele me disse:
– Mãe, meu anjo da guarda é ótimo!

Surpresa, tentei encontrar uma resposta adequada, mas não encontrei. E quase gaguejando indaguei:
– Você viu seu anjo da guarda?
 
Rindo muito, ele respondeu:
– Não, mãe! Eu não vi! Eu escutei!
 
Ainda espantada, perguntei:
- Ele falou com você?
 
Rindo ainda mais, ele colocou um dedo no meio da testa e falou:
– Não, mãe! Eu escutei aqui!
 
Depois, virou as costas e voltou para a sala, para continuar a ver o filme

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Nota - Prosa poética ou crônica lírica (em que o autor relata com nostalgia e sentimentalismo)
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