(Papa João Paulo II)

 
 Reflexão sobre o luto
- © Lenise M. Resende -

Morreu, no dia 2 de abril de 2005, aos 84 anos, Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II. Carismático, há mais de vinte seis anos ele orientava os rumos da Igreja Católica.

Durante alguns dias mantive silêncio sobre o assunto. Não fiz comentários, nem mesmo com minha família. Não acompanhei todos os noticiários e, não li, os especiais que vinham acompanhando o jornal diário. Ler sua biografia ou saber a opinião que algumas pessoas tinham sobre ele, não diminuiria minha tristeza. Tristeza que talvez tenha passado despercebida pelas pessoas.

A morte do papa coincidiu com uma forte gripe e, durante muitos dias, estive com os olhos lacrimejantes. Além disso, os antigripais me deixam sonolenta. E, ficar na cama, dormindo ou acordada, me deu tempo para chorar o meu luto. Não apenas pela morte do papa mas, a dor dessa perda, refletida na minha vida. Conscientemente, não usei a gripe para esconder minha tristeza. Mas, conscientemente, usei-a para me dar um tempo para refletir.

O longo velório do papa e a cobertura feita pela mídia, intensificaram o luto coletivo. "O velório permite que as pessoas se despeçam e que o enlutado seja reconhecido como tal", diz Maria Helena Bromberg, autora de A psicoterapia em situações de perdas e luto. Maria Helena, que foi à Inglaterra assistir os funerais da princesa Diana, diz: "O choro daquela gente não era só porque a princesa era querida. Mulheres choraram seus lutos pela princesa e por maridos inoperantes, traidores, jovens choraram por pais omissos. Cada um deságua seus lutos quando um ídolo se vai. Ainda que inconscientemente."

Aparentemente, muitos ainda não superaram o luto pela princesa Diana, primeira esposa do príncipe Charles, herdeiro da coroa britânica. Um dia após comparecer ao funeral do papa, representando sua mãe, a rainha Elizabeth I, o príncipe casou com a mulher com quem se relaciona a trinta e cinco anos. Nesse dia, dezenas de fãs da princesa Diana, fizeram manifestações de lealdade à ela.

Os psicanalistas e a própria vida, ensinam que o luto não pode ser adiado para sempre. E, mais ainda, que toda perda gera luto, esteja ela ligada à morte de pessoas ou animais, ou a divórcio, desemprego, aposentadoria, imigração, mutilação, aborto, impotência, menopausa. O grau de enlutamento depende do quanto o cotidiano do enlutado foi afetado.

Se o luto nos permite transformar a dor de uma ausência em memória, porque não vivê-lo? Certamente, o que hoje me permite escrever sobre minhas dores, foi ter aprendido a transformá-las em memórias. Memórias que, mesmo tristes, não me imobilizam mais.

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Nota - Crônica jornalística (apresenta aspectos particulares de notícias ou fatos cotidianos)
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Um comentário:

Luciene Lima disse...

Eu estava esperando um texto seu, do teor desse, desse naipe. Ele veio! Parece que quem pariu, foi eu....! É um elogio que significa, caso o destrinchemos, que espero sempre o melhor de vc. E que esse melhor sempre vem. Luciene Lima

23 abril, 2005