(Ponto final)

 
Ponto final
- © Lenise M. Resende -
 
Quando alguém parte sem se despedir deixa dúvidas. Não sei se devo sorrir ou chorar. Será que ele foi gentil ao calar-se sem me apontar erros ou defeitos? Ou será que foi esperto encobrindo os seus? Devo ser esperta, também, e fingir não me importar? Ou ser mais esperta ainda e mostrar que me importo? Devo fingir que não vou sentir saudade, mesmo que já esteja sentindo?
 
Quando um relacionamento desgastado termina, nem sempre os verdadeiros motivos ficam devidamente claros. O cansaço resultante de um convívio insatisfatório, a pressa em se afastar de situações desagradáveis, e o medo de dizer ou ouvir verdades até então escondidas, podem provocar um rompimento falsamente amigável. Porém, ao evitar discutir a relação ou encarar uma desagradável lavagem de roupa suja, a pessoa pode acabar criando um fantasma com capacidade de afetar negativamente um relacionamento posterior.
 
O medo que não encaramos nos persegue, cresce, e assume diversas feições. Quanto mais se evita o medo, maior ele se torna. A evitação age como um fermento que alimenta o medo.

Em geral, o que evitamos falar no passado acaba reaparecendo no presente, quando uma situação atual se mostra semelhante aquela sobre a qual calamos. Só que é impossível obter agora uma resposta que não quisemos escutar anteriormente, já que a situação é outra e os envolvidos também. E, no lugar da resposta, fica um vazio, um ponto de interrogação. E esse vazio é o fantasma.
 
Algumas pessoas procuram livrar-se desse fantasma rezando a Oração do Perdão, para romper o cordão que as mantém ligadas as mágoas e pessoas do passado. Costuma dar certo, quando se reza com fé. Para os incrédulos, que não acreditam no poder de uma oração, se não encontrarem outra solução, restará arrastar o grilhão que os prende a uma decisão errônea, por um longo e indefinido tempo.

*  *  *
Nota - Prosa poética ou crônica lírica (em que o autor relata com nostalgia e sentimentalismo)
*  *  *
TEXTO RELACIONADO

Nenhum comentário: