- © Lenise M. Resende -
Há alguns anos, exatamente em 1999, decidi não comparecer a
ceia de Natal da família, e fiquei em casa sozinha. O presente que mais
desejava, já havia recebido: uma pequena aula de informática, dada por minha
filha. Aprendi a ligar e desligar o computador, e a entrar na internet. Foi
muito difícil, mas gostei do desafio. Por isso, também não compareci ao almoço
de Natal. Preferi continuar no computador. Achei que não havia o que comemorar,
me sentia triste, com saudade de antigos "Natais". Presa as lembranças do
passado, me afastei da família e das comemorações.
O ano 2000 passou rápido demais, e um novo Natal estava
chegando. Os problemas eram quase os mesmos do ano anterior, e o mundo parecia
não ter mudado muito. Internamente, no entanto, mudei tanto, que penso ter
renascido naquela solitária noite de Natal. Ao me afastar do Natal, renasci, e,
como criança que aprende a estar no mundo, entrei no mundo virtual disposta a
aprender.
Escrever e guardar na gaveta, por não ter a quem mostrar;
pensar e guardar o pensamento, por não ter com quem falar, embotam o cérebro. Ao
conversar com pessoas pela internet, precisei reaprender a usar a memória, e
encontrei, intactas, lembranças e habilidades que dava como perdidas. Há muitas
afirmações falsas sobre a internet, e, uma delas, refere-se a letra. Minha letra
ficou mais bonita, minhas mãos ficaram mais rápidas, com excelente coordenação
motora. Passei a raciocinar com mais facilidade, e, às vezes, chego a pensar que
até fiquei mais inteligente.
Meu primeiro Natal, pós-internet, começou em novembro de
2000. Coloquei no novo site somente uma página de Natal com duas poesias, mas
lentamente fui me envolvendo no espírito natalino. Cada mensagem, poesia, cartão
ou imagem de Natal e Ano Novo, que chegavam por e-mail, me comoviam. Para
inaugurar a página de cartões virtuais do site, escolhi o tema Boas Festas! E,
para confeccioná-los, precisei pesquisar meus antigos cartões feitos
artesanalmente.
Em casa, a família começou a entrar no clima. Todas as
noites, a árvore de Natal permanecia acesa. Havia todos os tipos de Papai Noel,
sinos, e velas, espalhados pela casa. E, era muito comum, que houvesse um CD com
músicas de Natal tocando. Quando não havia, eu escutava alguma música enviada
por e-mail, junto com uma mensagem. As letras dessas músicas são tão singelas, e
as poesias que os amigos me enviavam eram tão lindas e comoventes, que fiz uma
nova página especial de Natal. Não consegui guardar essas mensagens só para mim,
precisei compartilhá-las.
Agora, no dia 24 de dezembro deste ano, ainda não sei onde
será a ceia da minha família. Sei, porém, que não estarei sozinha. Estarei
comemorando junto aos meus familiares, e o meu computador estará desligado.
O melhor presente que podemos dar aos nossos sucessores
(filhos e netos) no dia de Natal, são boas lembranças. Esse foi o melhor
presente que nossos pais e avós nos deram.
Boas Festas! Que neste Natal e em cada um dos dias do Ano
Novo haja Paz, Amor e Serenidade em sua vida e seu lar.
* * *
- Ano sim, ano não
Nota - Crônica filosófica (reflexão a partir de um fato ou evento)
* * *
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