(Minhas férias)

 
Minhas férias
- © Lenise M. Resende -

Alguns blogs, no início do ano, colocam a imagem de um bilhete, para ilustrar uma mensagem sobre a volta às aulas. Nesse bilhete, uma criança (?) questiona o costume de sua professora de pedir aos alunos que façam uma redação sobre o tema "Minhas férias". Felizmente não sou criança e nem estou na escola. Depois de um mês de férias, está difícil colocar a cabeça para funcionar, isto é, colocar as ideias em ordem. E, pior ainda, escrever sobre elas. O descanso me deu tempo para refletir sobre muitas coisas mas não me deu certezas.

Um dos acontecimentos que presenciei pouco antes do Natal, foi o atropelamento de um jovem perto do meu edifício. Da janela de casa, só via suas pernas pois os galhos de uma árvore próxima cobriam o resto do corpo. Até que uma pessoa chegasse em casa com alguma informação, assisti a chegada de três viaturas cheias de guardas municipais, além de uma ambulância. O motivo, fiquei sabendo depois. O rapaz, de quinze anos, estava vendendo cartões de Natal e papéis de presente na calçada. Quando a Guarda Municipal começou uma ação de repressão contra camelôs nas proximidades, ele tentou fugir, foi atropelado por um ônibus e morreu no caminho para o hospital.

Nas calçadas, muitas pessoas revoltadas discutiram com os guardas, responsabilizando-os pelo atropelamento. Da janela, assisti a tudo com a visão nublada pelas lágrimas, um nó na garganta e a cabeça confusa. Afinal, os guardas (bem ou mal) estavam fazendo seu trabalho. Perto do Natal, as calçadas ficam intransitáveis, repletas de camelôs. E, o rapaz, estava tentando ganhar algum dinheiro, para sobreviver ou viver um Natal mais farto. Naquele momento, não pude apontar culpados. Só consegui pensar na frase "prevenir é melhor do que remediar" ou, sua versão mais apropriada a esse caso, "prevenir é melhor do que reprimir".

Outro acontecimento que presenciei, pela televisão, em dezembro, foi a inauguração da árvore de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas. Esse ano (2008), ela ganhou três metros, passando a medir 85 metros, o que equivale a um prédio de cerca de trinta andares. Agora, ela vai substituir o recorde de maior árvore flutuante do mundo no Guiness Book of Records. Recorde que ela própria havia alcançado em 1999, com altura de 76 metros.

Há alguns anos, quando era menor e mais simples, essa árvore até que era bonitinha. Agora, além de feiosa, é apenas um símbolo de ostentação e vaidade. Provavelmente, no próximo ano, ela ficará ainda mais alta, mais dinheiro será gasto e o nome do patrocinador será ainda mais divulgado. Se está sobrando dinheiro, por que não ajudar o país a subir em outros índices que signifiquem melhora na educação e no saneamento básico, por exemplo?

O melhor de ficar de férias em dezembro foi poder me distanciar dos textos natalinos. A maioria deles são muito bonitos mas, atualmente, me pareciam distantes da vida real. O Natal anda muito luxuoso, enfeitado, cheio de luzinhas e brilhos. Cheguei a me perguntar se a autêntica festa de Natal estava acabando. Uma resposta de esperança chegou no telejornal do dia 25 de dezembro.

Foi emocionante ver famílias inteiras dedicando-se a alegrar a festa de bairros carentes, creches e orfanatos com presentes, alimentos e presença. E, o mais emocionante, foi ver que foram centenas de famílias por todo o Brasil além de muitos restaurantes populares que forneceram almoço de Natal gratuito.

Ter tempo para descansar e refletir foi bom. Está sendo bom retornar ao trabalho. Felizmente não é preciso pressa. Aos poucos vou colocando as ideias em ordem e me acostumando a ficar horas sentada na frente do computador. 
 
*  *  *
Nota - Crônica filosófica (reflexão a partir de um fato ou evento)
*  *  *

Nenhum comentário: